A quanto tempo não escrevo?
E como não escrever hoje?
Aniversário dele.
E como eu não sabia que era hoje? Como pude me esquecer?
E ao saber, não por acaso, já estou com ele aqui.
Blowing in the Wind é a música que ele canta pra mim agora, clichê eu sei. Mas e daí?
Desde pequena ele já acompanhava nossas viagens, no passat amarelado do meu pai, janelas abertas indo pra praia. Depois, um pouco mais além, nos domingos de manhã em que aprendi a tomar chimarrão. E então lembro que não-me-lembro dele por um certo período. Mas não sei bem o por quê.
Foi porém em fevereiro de dois mil e nove que a gente se reencontrou. Ele ali, de jaqueta de couro, mantinha, tímido, cigarro no canto da boca. Era carnaval, mas ele não sabia disso. E ali na dele, cantarolava o folk de sempre. Eu não tinha lhe dado muita atenção em algum tempo, mas naquele carnaval a gente se reencontrou - sem ele nem saber.
E tudo melhorou, assim simples. As angústias me cercavam, ele cantava pra mim. O telefone não tocava, ele me tranquilizava. O jeito cool, o jeito calm, o jeito clear dele me contagiou. “repeat” foi o jeito que eu achei de mante-lo sempre por perto.
Algumas noites foi chorando contra o travesseiro, abafando os soluços, que ele me fez dormir. Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas.
As vezes era no ônibus, indo pra faculdade - dormindo, ou conversando - que ele surgia, como uma fuga pra minha mente atrapalhada, ou como assunto de uma conversa.
E assim a nossa vida tem sido, invernos e verões.
Amigos vieram e foram. Amores foram. Amores vieram e foram. Amor veio. E sempre com ele ali, trilha sonora pros meus ups and downs.
Se foi a voz arrastada, se foi o cabelinho bagunçado, se foi o som da gaita, se foram as letras ácidas e emotivas, se foi Like a Rolling Stone, se foi o carnaval de dois mil e nove, se foi ele, não sei. Mas foi.
E então é aniversário dele. Hoje completa 70 anos de vida, e eu sinto uma alegria dentro de mim. Uma verdadeira sintonia imaginária, uma vontade de abraçar, conversar, desejar os parabéns, de tomar um drink e ouvir mais uma vez qualquer uma das baladas que sei de cor. Por que ele pode não saber da minha existência, dos meus sentimentos... mas pra mim ele é e sempre será o amigo, o affair, o ídolo, o cúmplice, o deus, Bob Dylan.