29 julho, 2010

o sabor do tempo

Que gosto o tempo tem?
Salgado? Ácido? Doce? Aerado? Qual o gosto do teu tempo?
Hoje em dia, esperar é perder. Tudo é para agora, já passou. Pessoas se desesperam se um site saí do ar por cinco minutos. Quase choram se a sessão do banco expira e precisam re-logar. Um hot-pocket de 3 minutos: tempo infinito dentro do micro-ondas.
Se algo demora, você perdeu o tempo, fez um mal negócio. Dar um tempo num relacionamento, é o mesmo que o fim (?). O imediatismo moderno está nos privando do sabor único da demora, da espera, do tempo em sí.
Deixamos de viver prazeres como o de tirar uma foto e alegrar-se ao vê-la um mês depois quando revelada. Ou o gosto de receber uma carta postada 10 dias atrás, com palavras que continuam vigentes. Contar os dias para ver alguém.
O “aqui e agora” tem acabado com a graça do jogo, e o celular seria assim, o darth-vader do tabuleiro.
(já posso ver as caras feias que levarei ao dizer isso, mas direi igual): qual a maldita necessidade de sabermos o posicionamento preciso de alguém em qualquer instante do dia? As pessoas viraram satélites em missões teleguiadas e ninguém me avisou, foi isso?
-not.
Alguém aí (respondam) lembram do prazer que é, ao final de um dia inteiro – ou até de uma semana toda – longe de quem se gosta, fazer uma ligação planejada, ansiada, aguardada e saborosa pra falar sobre a vida?
-fui ver minha vó
-já sei
-fiz compras no shopping
-3 blusas
-comi torta no almoço
-me contou
Claro né. Os dois viventes se falaram 23 vezes nas últimas 7 horas, o que pretendem conversar agora?
Monótono.
Libertem-se dos telefones kidz!! Dos pagers, e-mails, mensagem de texto, sinal de fumaça. Desliguem os telefones durante a academia, o banho o sono. Se for o de casa, tirem do gancho – SEM CULPA pela ligação perdida (ela virá muito mais gostosa, mais tarde). Criem expectativas, guardem surpresas, se surpreendam. Escrevam uma carta.
Tirem uma foto de filme – e depois revelem.
Montem um quebra-cabeça de 5000 peças.
Bordem.
Leiam um livro grosso, de vários volumes (coletânea de tirinhas também vale!)
aguardem, anseiem. Construam o prazer da recompensa que só o tempo transcorrido pode fornecer. E desfrutem desse tempo, pois ele tem um sabor inexplicável, comparável apenas a... um top sundae com muito caramelo.

22 julho, 2010

cosmic

é que nem uma explosão cósmica:
num instante é nada, é menor do que a menor coisa
que se possa imaginar, é sub-atômico. E no instante
seguinte por sua vez é imenso. é mais do que isso,
é infinito, e mesmo assim continua a se expandir.
aumenta monstruosamente dentro de sí, a ponto de
se colidir em suas próprias fronteiras.
E dobra-se em seu redor, dá voltas que formam círculos,
elipses, bolas.. e formam também cavalinhos de algodão.

12 julho, 2010

nossa

e quanto a mim, mim não sei.
mim sumiu, em mim, surgi.
tô aqui, aqui.
e não estou, se tão longe vou
e enxergo a mim, sem mim,
sem mãe, sem mão. um não.


sem mim, um sim. Oi!