15 abril, 2010

Amor do [não] dizer.

"o amor é uma coisa íntima, mas todos nós temos a necessidade de torná-lo público."

Ontem lí isso num texto da Martha Medeiros em que ela falava do impulso que temos de anunciar aos sete ventos os fatos da nossa vida amorosa. Fiquei refetindo(...).
Realmente é assim. Estamos ali, levando a nossa vida de pacato cidadão, quando o amor sem aviso prévio nos ataca - e prontamente nos tornamos uma revistinha de fofoca ambulante. Ligamos para os amigos, e nos encontramos em bares, com o intúito de compartilhar nosso estado de graça e discursar sobre as qualidades da pessoa amada. [Creio que no caso do bar o alcoól ingerido contribuí para a revelação de detalhes mais íntimos - e desnecessários].


Amar em silêncio é crime.
Amar escondido também.
A sociedade criou há muito tempo a Lei do Amor Aberto; e provavelmente poucas leis são tão fiscalizadas e cobradas quanto essa. Não compartilhar um amor é motivo de indignação pública em massa! Mas afinal companheiros, qual o sentido na necessidade de tanta clareza? Se o amor é tão incompreendido e confuso para os próprios amantes, compartilhá-lo não seria apenas torná-lo mais difícil? (...)

Então variações sentimentais passaram a exigir recibo público!

Nada contra, veja bem, quem encara como terapia falar das aventuras de seu coração. Isso costuma inclusive ser uma terapia eficiente, visto que há tanto tempo viemos exercendo-a com alegria! Vamos porém, meus queridos, respeitar a individualidade! Vamos aceitar que algumas pessoas precisam de um tempo só seu, só seu. Que às vezes o prazer de arder secretamente sonhando na cama é maior do que o de distribuir ao público versos agradáveis sobre o ser amando. E que às vezes o simples fato de falar parece estragar o que está tão claro e bem estabelecido pelos olhares risonhos.
Numa época em que tudo é tão social, tão compartilhado e discutido abertamente, vamos dar uma trégua para o nosso pobre coraçãozinho, que apesar de não ter nada de miserável gosta mesmo é de vagar sozinho e clandestino por becos escuros a procura de novos perigos.

07 abril, 2010

vida ventada

deixa soprar o vento da vida,
deixa curar teus medos ocultos.
o vento que leva e trás, e tira e dá.
o vento que bate na cara na aurora
gelada.
que lembra meu ser a delícia do ver.
do ter, você.
e numa vontade desgarrada, daqueles
que sabem e sofrem,
que leem e entendem,
que pensam e sentem;
nessa vontade eu vivo depressa, sem pressa,
no auge do declínio de uma existência pífia.
e sorrio feliz, inventando minha vida ao vento.